quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

MENINO DE RUA

Outro dia, em uma véspera de natal, eu transitava pelas ruas de Recife e prestei atenção em um garoto de rua. Sujo, rasgado, lata de cola mão, possuía todas as características daquelas crianças que tem as ruas como lar. Quando ele percebeu que eu o estava olhando, para minha surpresa, abriu um sorriso enorme e acenou.



Voltei pra casa com o sorriso daquela criança na cabeça, imaginando como seria o seu natal, quantos presentes ganharia, quantos abraços receberia, que tipo ceia seria servida para ele naquela noite...

Segue uma reflexão sobre aquela experiência:


Menino que canta
Menino que brinca
Menino que imita a vida normal
Menino do bem, do mal
Menino do dia, da noite, que chora o açoite que a vida lhe traz

No seu rosto sofrido
A imagem da solidão
Na sua roupa rasgada
A imagem triste e amargurada
De um esboço que ninguém quis acabar

Sua voz é baixa, mesmo que grite
Seu rosto é triste, mesmo sorrindo
Seu passado é dorido, quase sempre
As dores do mundo em sua mente
A fome de tudo é o seu viver

Praças e multidões
Ruas e becos
Afetos negados
Choros embargados
Sorrisos partidos

Infância roubada
Infância fugida
Infância rasgada nas páginas da lei
Por mais que me pergunte
Eu não sei, eu não sei...

Não sei quem és
Não sei teu nome
De onde vieste
Aonde te escondes
Só sei que respondes pela pena que não é tua


É na cara lavada dos lordes que se esconde teu sorriso
É no bolso do salteador de gravata que se esconde teu pão
É a pátria cega, surda e calada que te furta um leito
Nas calçadas da vida, todo dia, perdes o respeito
De arma em punho, de olhos vitrificados, esqueces que tem coração.

Menino, criança, será que ainda há esperança?
Será que do humano já roubaram tudo?
Quando o mestre mandou abrir caminho e te deixar passar
“Deixai vir a mim os pequeninos”
Naqueles braços, abertos ate hoje, ali, de fato, é o teu lugar.



Para aquele garoto, que, mesmo sem nada ter, mostrou-me um sorriso de quem tudo possuía.

 
Paulo Gustavo Lins
Estudante do 7º de Direito da UNP

Um comentário:

Francisco Bezerra disse...

Um grande amigo certa vêz me preguntou:E pra que serve o orgulho? Depois de ponderar um pouco,lhe devolvi a pergunta,que me calou.E você, o que acha sobre orgulho,pra que serve? Ele sábio, respondeu:O orgulho só nos leva a um lugar,"ao buraco".Sendo assim pergunto aos nobres amigos leitores,estaría-mos no caminho certo,ignorando a miséria,o abandono,a injustiça,a falta de dignidade? será que por menos que possamos,não podemos fazer nada para mudar esse cenário?Fica a reflexão.