terça-feira, 20 de julho de 2010

ZICO, O CASO BRUNO E A MÍDIA

Olá pessoal,

Tenho evitado postar notícias sobre O Caso Bruno (ex-goleiro do Flamengo) porque este triste episódio transcende a relação entre torcidas rivais e vai muito além da sadia brincadeira entre as mesmas.

Mas navegando pela web encontrei uma coluna sobre o assunto e as declarações do maior ídolo da torcida do Flamengo, o Zico, que me chamou a atenção. Transcrevo abaixo alguns fragmentos da coluna do jovem jornalista Vitor Roma.

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Zico foi ídolo de um Flamengo sem noticiário policial. Um Flamengo que ganhou muito e formou, eu sua grande parte, cidadãos que merecem respeito. E Zico tem razão: como clube detentor da maior torcida do Brasil, o Flamengo tem responsabilidades para com as milhares de crianças que vestem a sua camisa todos os dias, e deve honrar estas responsabilidades, mesmo que seja acima dos títulos.

O problema do Flamengo, no meu entendimento, vem de mais longe. Dono da maior torcida do Brasil e ainda em maior proporção no Rio de Janeiro, o Flamengo há muito tempo domina os noticiários esportivos do Estado. A mídia carioca sabe que a numerosa e apaixonada torcida rubro-negra é uma mina de ouro, e por isso forma craques a cada três meses. Não foram poucos os casos de meninos recém saídos das divisões de base do Flamengo serem considerados craques sem provar nada, jogadores médios serem alçados a selecionáveis a cada semana e, convenhamos, até um colunista para falar essencialmente de Flamengo o jornal O Globo tem.

Até aí, absolutamente nada de muito errado. O problema é que este excesso de fama se misturou com excesso de percepção de poder. O jogador do Flamengo, como diria meu filho de 10 anos, invariavelmente “se acha”. O estereótipo de craque rubro negro saiu da favela do Rio de Janeiro, onde seus amigos quase sempre seguiram caminhos muito mais tortuosos, e conquistou a Zona Sul do Rio de Janeiro. Lá ele é rei. Lá ele desfila com carro importado, é bajulado pela mídia e sai com todas as menininhas que quer. Ele é do mengão.

Não, isso não acontece só com o jogador do Flamengo, claro que não. Só que acontece muito mais com os jogadores do Flamengo porque tudo no Flamengo ganha maior proporção. Simples assim.

E a mídia ajuda. Uma final onde o Flamengo é beneficiado pela arbitragem não é chamada a atenção. Se for ao contrário, vira drama. Por exemplo, o atual lateral esquerdo do Flamengo pode tudo, gritar, fazer faltas, reclamar com juízes… Mas no dia que tomou um baile de Maicossuel gritou no ouvido do rival porque afinal, respeito é bom e ele gosta. Adriano desfilava com metralhadoras nas mãos pela favela do Rio de Janeiro e a mídia o queria na Copa. Se o Flamengo goleia um rival no Maracanã, a humilhação de um olé ao final do jogo vira manchete de capa de jornal. Se é goleado, os jogadores se revoltam e “tem que ter respeito, porque isso aqui é o mengão”. A torcida se chama de Nação, os jogadores se acham reis.

E então Zico põe o dedo na ferida desta geração que já o tem na lembrança longínqua de 30 anos atrás. Não é assim que se ganha respeito. Se ganha respeito como o time de 80, ganhando tudo. Ganhando tudo e respeitando as pessoas, as instituições, os adversários, as torcidas adversárias, etc. O Flamengo não é só o Flamengo de Zico, como não pode ser o Flamengo de Adriano, Vagner Love, Juan e principalmente Bruno. O Flamengo tem responsabilidades e parece que enfim, algum flamenguista acordou para o fato.

É claro que todos os episódios envolvendo os jogadores do Flamengo no último ano são um prato cheio para os adversários. E também é claro que os flamenguistas, em função disso, se defendem. Isso tudo é natural e saudável. O que não pode é fechar os olhos para o que ocorreu.

Parabéns ao Zico pelo discurso. Sua posição firme com relação ao assunto fez até acordar alguns veículos de mídia que, chancelados por alguém que respeitam, também começaram a analisar o que vinham fingindo não ver, vide as reportagens na Veja Rio desta semana e do próprio O Globo.

Errados estão os analistas e torcedores rubro-negros que simplesmente fingiram que não viram ou pior, pensaram que tudo iria ficar bem porque afinal, fazem parte de uma Nação, e a Nação dá um jeito.
Os pais agradecem à postura do Zico. As crianças idem. O BOLA, como um site amante do futebol ético e principalmente os flamenguistas mais atentos e sérios também. Que a postura vire prática.

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