Existem fatos que por mais que tentemos entender, não conseguimos. As acusações de desvio de dinheiro público pela administração do ex-prefeito Possidônio Queiroga, a creche inacabada, que subtrai da população carente um serviço essencial, até mesmo a prisão em flagrante do ex-prefeito Popó, são situações que não nos trazem mais admiração e espanto, é um quadro triste e antigo na história política de Patu e do país.
É claro que cabe ao poder jurisdicional do Estado julgar e punir, qualquer afirmação diferente disso seria leviana e incondizente com o atual Estado Democrático de Direito vigente no país, portanto, todos são inocentes até que se prove o contrário, jamais podemos nos afastar dessa verdade, no entanto, alguns fatos carecem de reflexão.
Se há parte prejudicada no suposto desvio de dinheiro da creche de Patu, esta é a própria população patuense, que, além de ter sua confiança depositada nas urnas traída, vê aquilo que poderia ser mais um benefício social para os mais carentes transformar-se em lixo e descaso. Estamos falando de dinheiro público, dinheiro recolhido de todos, que infelizmente, provadas as acusações, acaba servindo aos fins escusos e imorais de alguns poucos.
O interessante, é que é parte desta mesma população que deveria estar indignada que se levanta em defesa dos acusados de corrupção, a fiança, fixada pelo juiz em R$ 10.200,00 (Dez mil e duzentos reais), segundo notícias que circularam na cidade, foi levantada e paga em menos de 24 horas por este mesmo grupo de defensores, colocando o ex-prefeito em liberdade.
É claro que cada um faz do seu dinheiro o que quer. É claro que se a norma concede tal benefício, não há de se falar na legalidade da situação. Moral é algo sempre muito complicado de se discutir, é um conceito subjetivo que cabe a cada um formar o seu.
No entanto, pensando aqui com os meus botões, fico a pensar numa situação imaginária e confesso que fico triste com o que penso que aconteceria se fosse real, será que uma criança muito doente, necessitando de cirurgia de urgência, conseguiria levantar dez mil reais em menos de 24 horas em Patu? Será que os mais abastados do município se compadeceriam desta situação? O que vale mais na terra das altas serras, as raquíticas e deformadas convicções políticas ou a vida humana? Cada um que busque a resposta nas suas convicções e no seu conhecimento da sociedade patuense.
O retorno de Possidônio à cidade de Patu, pós-prisão, foi comemorado como se um herói fosse, como se tivesse feito algo que enchesse o peito do patuense de orgulho. Como não quero fazer nenhum juízo de valor, mas apenas levar o leitor a uma reflexão, deixo algumas perguntas no ar: será que é deste tipo de exemplo que a sociedade local precisa? Será que é neste modelo de comportamento que vamos moldar a educação de nossos filhos? Será que não estamos confundindo fidelidade com falta de vergonha na cara?
A grande verdade disto tudo é que o verdadeiro patrimônio da cidade de Patu não se encontra nas contas bancárias dos mais abastados, muito menos nos cofres públicos frequentemente surrupiados por facínoras que alegam defender a coisa pública. O verdadeiro patrimônio da cidade de Patu encontra-se no homem simples, no agricultor, no operário, no cidadão de bem que trás o pão pra casa com o suor do rosto, naqueles que a despeito das agruras da vida e das dificuldades negam-se a vender seus ideais, negam-se a vender o que existe de mais precioso, a dignidade do ser humano.
Por Paulo Gustavo